segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Feliz Natal


Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Álvaro de Campos

Este é o meu presente para vós. Parece um poema pouco natalício, mas é o Natal que temos.
A todos os amigos que me lêem, votos de um feliz Natal e um feliz ano de 2013.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sofia de Melo Breyner Andresen



Sofia de Melo Breyner Andresen - Porto, 6 de Novembrode 1919Lisboa, 2 de Julho de 2004. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999. Uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX.

 Poema
A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

Sophia de Mello Breyner Andresen


terça-feira, 30 de outubro de 2012

FADO BRASILEIRO

Vem este poema a propósito do ano do Brasil em Portugal

Abre-me os braços, oh bela Lisboa!
Aqui estou. Tracei-te em meu destino.
Corpo febril, ardendo em pleno cio,

quero saber-te a mãe, nunca o algoz.

Faz tempo que te corro como um rio

que busca avidamente pela foz.


Inda lembras Lisboa, quando um dia

chegastes, poderosa, em meu Brasil?

E eu, na mata virgem, nem sabia

que tu havias meu povo domado.

Escrava do teu trono, fui servil.

Ama-de-leite de todo um reinado.


Trago comigo toda a minha herança.

Modas de amor, cantigas de ninar.

Trago o chorinho e as rodas de criança.

Xaxado, marcha-rancho e boi-bumbá.

E trago da viola, o desafio

de escolher-te cheia de esperança.


Trago meu sol, para aquecer-te o frio.

Minha Amazônia, fértil e verdejante.

Meu oceano atlântico do sul.

Trago-te um rio de água borbulhante.

Os cântaros da chuva em pleno estio.

E pássaros cantando em céu azul.


E mais ainda, trago-te as rendas

das mulheres rendeiras do Sertão.

Da feira popular, o sanfoneiro.

Da meninas bonitas, trago prendas.

Trago o Cordel e o galo madrugueiro.

E as fogueiras do meu São João.


Então não vês, Lisboa, que és minha?

Não vês que o Tejo corre em minha veia,

e que o meu Pelourinho é a tua Alfama?

Quero-te minha amante, ao meu jeito.

E apesar da "Carta do Caminha",

guardo-te inteira dentro do meu peito.


Abre-me os braços, o bela Cidade!

Que eu trago o brado livre do poeta,

desenterrado dos "navios negreiros".

O grito do "quilombo" em liberdade.

Eu trago a dor dos fados brasileiros.

E um coração morrendo de saudade.


Kátia Drummond.


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

*Ocê gósdevinho?*

Estão a tratar-nos como se fossemos ignorantes e inúteis, estamos a comportarmo-nos como se eles fossem inocentes e bem-intencionados…já não sei o que pensar, nem deles nem de nós.
Vou fingir que estou embriagada, e para ilustrar aqui vai uma anedota sobre a prova de vinhos em Minas Gerais de Luiz Fernando Veríssimo.

*Degustação de vinho em Minas*


- Hummm...

- Hummm...

-* Eca!!!*

- Eca?! Quem falou Eca?

*- Fui eu, sô! O senhor num acha que êsse vinho tá com um gostim estranho?*

- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque detrufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...

*- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!*

- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?

*- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!*

- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!

*- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?*

- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...

*- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!**

*- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...

*- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!*

- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...

*- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...*

- O senhor poderia começar com um Beaujolais!

*- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!*

- Então, que tal um mais encorpado?

*- Óia lá, ocê tá brincano com fogo...*

- Ou, então, um suave fresco!

*- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada!*

- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!

*- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, messs! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...*

- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?

*- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?*

- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?

*- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!**

*- Mole e redondo, com bouquet forte?

*- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!..*

*Luiz Fernando Veríssimo*


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Desalento...



Princesa Desalento



Minh'alma é a Princesa Desalento,

Como um Poeta lhe chamou, um dia.

É revoltada, trágica, sombria,

Como galopes infernais de vento!



É frágil como o sonho dum momento,

Soturna como preces d'agonia,

Vive do riso duma boca fria!

Minh'alma é a Princesa Desalento…



Altas horas da noite ela vagueia…

E ao luar suavíssimo, que anseia,

Põe-se a falar de tanta coisa morta!



O luar ouve a minh'alma, ajoelhado,

E vai traçar, fantástico e gelado,

A sombra duma cruz à tua porta…



(Florbela Espanca, «Livro de Soror Saudade», in «Poesia Completa»)



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Kaya



A Kaya nasceu a 10 de Junho 2001 e deixou-nos dia 3 de Agosto de 2012.
A ela dedico este poema do Millôr Fernandes.


Gato ao crepúsculo

Gato manso, branco,
Vadia pela casa,
Sensual, silencioso, sem função.

Gato raro, amarelado,
Feroz se o irritam,
Suficiente na caça à alimentação.

Gato preto, pressago,
Surgindo inesperado
Das esquinas da superstição.

Cai o sol sobre o mar.

E nas sombras de mais uma noite,
Enquanto no céu os aviões
Acendem experimentalmente suas luzes verde-vermelho-verde,
Terminam as diferenças raciais.

Da janela da tarde olho os banhistas tardos
Enquanto, junto ao muro do quintal,
Os gatos todos vão ficando pardos.

Millôr Fernandes

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Intouchables





Para se ser feliz é preciso despirmo-nos de preconceitos, eles prendem-nos a outras mentes , outras felicidades que não são as nossas.
Foi o que vi e aprendi ontem com o filme "Untouchables"

Um aristocrata rico, que está paraplégico e que já não tem nada a perder, está à procura de uma pessoa para o acompanhar e ajudar no seu dia-a-dia, está farto de ser tratado como manda a etiqueta, “a etiqueta dos deficientes", decide arriscar e ser acompanhado por um estrangeiro, ex-presidiário, "um negro que vem dos subúrbios".

Este, que vem de uma sociedade duríssima, onde o sentimento de pena é coisa que não existe, mas sabe o que é a cumplicidade, lealdade, o desejo de igualdade.

Onde aparentemente há a falta de respeito com as brincadeiras do Driss, o próprio Philippe aprende a brincar com a sua situação, e dá-lhe espaço, também este respeitando o outro individuo. Driss interessa-se pelo homem incorpóreo e não pelo homem físico e é capaz de lhe proporcionar momentos e emoções que lhe foram retiradas pelos tais preconceitos. Philippe não é doente, está imóvel, de resto é extremamente inteligente e sensível. A sua sensibilidade acaba por contagiar o Driss e o que parecia improvável aconteceu: uma amizade e uma cumplicidade entre os dois de ir às lágrimas. O que antes era improvável, agora é inseparável.

Acho que este filme é altamente pedagógico, para quem pensa que as pessoas que estão incapacitadas fisicamente, também o estão mentalmente ou emocionalmente.

Para quem ainda não viu, recomendo, mesmo, e esqueçam essa coisa do...ah, é francês...o filme é bom em qualquer língua!!



Nota: Eu sei que o filme já saiu há imenso tempo, que já se disse muito sobre ele, e por isso vos poupei à ficha técnica, etc. Eu só tive oportunidade de ir ontem ao cinema e hoje tenho vontade de partilhar o que senti. Pronto tenho dito.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sting: yin e yang musical


Este texto refere-se ao concerto de Sting no EDP CooljazzFest'12 em Oeiras, dia 29 de Junho, um dos melhores concertos que tive oportunidade de assistir. E porque é muito fiel ao que eu senti e vi aqui vos deixo.

"25 anos de carreira a solo, num total de quase quatro décadas dedicadas à música, Sting já atingiu um patamar de excelência que quase dispensa apresentações mais pormenorizadas. O cantor abriu a edição deste ano do Cool Jazz Fest naquela que terá sido uma das noites que melhor ilustra todo o conceito deste festival de Verão: foi uma noite amena onde se ouviram boas incursões pelo jazz num excelente exemplo do que é um festival diferente.
A chamada de Sting a palco faz-se como seria de esperar de uma figura zen como só ele. Ouve-se uma melodia suave, muito suave... que quase adormecia não fosse enorme a expectativa de ver Sting em palco, acompanhado de cinco músicos que, para o público português, ainda eram uma surpresa ao início da noite mas que já o acompanham na sua digressão Back to Bass desde o final do ano passado.

Hoje, no Estádio Municipal de Oeiras, nenhum internacional famoso falharia golos, tão reduzida era a distância entre a última fila de pessoas e a baliza. Com um cenário reduzido, o sexagenário artista agarrou os 10 mil fãs portugueses, de todas as idades e ambos os géneros, desde o primeiro acorde de 'All This Time', a que se seguiram 'Every Little Thing She Does Is Magic' e 'Englishman In New York', de 1987. Convém esclarecer que neste espectáculo não há margem para temas novos ou grandes experimentações musicais. A fórmula é fácil de entender: só Sting e o seu baixo - o instrumento que tocava nos Police - no seu melhor. Até o som, talvez ajudado pela ausência de vento ou pelos 40 mil watts de potência, estava no ponto certo para termos uma boa noite de música.

Falar português, já se sabe, garante subir mais uns degrauzinhos na admiração do público e Sting, embora não de forma exaustiva, cumprimentou os presentes, apresentou a banda e ainda perguntou se tínhamos frio. Não, nada de frio, portanto, os braços ergueram-se para aplaudir e acompanhar Sting num dueto de um para dez mil em 'Heavy Cloud No Rain' onde o concerto começou a assumir sonoridades mais jazzy. A "escola" Police fez-se notar logo na canção seguinte, 'Driven To Tears', mais a puxar pelo rock e na qual é de salientar o talento, a entrega, a quase loucura do violinista Peter Tickell que volta a responder à chamada em 'Shape of My Heart' e 'Love Is Stronger Than Justice', dando uma utilização nada típica de um instrumento tão frágil e delicado, quase a tocar riffs da guitarra mais frenética.

Todo este regresso aos temas gloriosos de String não trouxe, no entanto, nenhuma nostalgia bafienta. Antes pelo contrário. Tudo foi apresentado em arranjos musicais modernos, voltados para um futuro que Sting vai continuar a levar, certamente, com a estrela da qualidade. Talvez soubesse bem, no entanto, que se tivesse "passado" uma ou outra vez, como afinal toda a gente já fez a ouvir as músicas dele.

Será injusto dizer que o senhor Sumner guardou as melhores para o fim porque, afinal, grandes êxitos foi o que se ouviu nas duas horas de concerto. A fechar ficaram momentos intimistas como 'Desert Rose', 'King of Pain', 'Roxanne' e 'Every Breath You Take'.

Praticante de yoga e sexo tântrico, defensor das nobres causas ambientais e balança metódica de yin e yang, Sting acabou a noite a doar toda a alimentação que não foi consumida nos bastidores a uma instituição de solidariedade social. Assim, é impossível evitar que, mesmo não sendo novidade para os portugueses, mr.Sting esgote os espaços por onde decidir continuar a visitar-nos."

Texto de Daniela Azevedo, foto de Vanessa Krithinas in Rádio Comercial

segunda-feira, 4 de junho de 2012

"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser Feliz"!!!


Estamos a criar pessoas e hábitos de consumo rápido e resultados falsos. Comida feita e ingerida muito rapidamente, relações iniciadas e acabadas muito rapidamente. Tudo é comprado para durar uma época, as calças, a mala, o chapéu, o telemóvel, a televisão, o carro, e por incrível que pareça, as amizades, que também se conquistam quando nos interessa e se descartam quando já não têm mais nada para dar…na procura de nos satisfazer agora, parque o amanhã, pelos vistos, não nos interessa muito e o ontem menos ainda!!!
O que é triste, afinal estamos aqui de passagem e é uma passagem tão curta que nos devíamos preocupar apenas em ser felizes e verdadeiros connosco próprios e com aqueles que amamos. Como dizia o Bernardo Sassetti, temos que ter liberdade interior, e não viver obcecados com as marcas e os modelos que esta sociedade de consumo e altamente competitiva nos obriga a seguir.

Frei Betto conta-nos isto:
Ao viajar pelo Oriente, mantive contactos com monges do Tibete,  da  Mongólia, do  Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniel, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: ‘Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde’. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação! Estamos construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho óptimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjectividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização colectiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este ténis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitectónicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...


Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objectos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:            

"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser Feliz"!!!
Frei Betto

sexta-feira, 13 de abril de 2012

WORLD PRESS CARTOON SINTRA 2012

Aqui fica o convite para a festa de entrega de prémios dos cartoons vencedores que ilustraram a imprensa nacional e internacional. Em tempos de crise afia-se o lápis, e nós temos cá os melhores do mundo.  Há semelhança dos anos anteriores, vamos ter muito bom humor e muita música, seguida de inauguração da exposição. Apareçam e divirtam-se connosco.


terça-feira, 10 de abril de 2012

Matar dois coelhos com uma cajadada só...



O Nosso sistema de saúde tem muitas lacunas, muitos vícios, precisa de facto de ser fiscalizado, reformulado, não de ser fechado. Assim ficamos cada vez mais dependentes de seguros de saúde e de hospitais privados se quisermos ter uma consulta ou uma cirurgia em tempo útil. O nosso ministro da saúde tem muito boas intenções, mas também tem muitos interesses, se não vejamos o curriculum do senhor “Entre 2001 e 2004 foi administrador da Médis, Companhia Portuguesa de Seguros de Saúde…” Isto diz-vos alguma coisa?? O caso da maternidade Alfredo da Costa  então, é gritante, porque esta sim, ainda faz muita concorrência aos privados. Toda a gente sabe que se alguma coisa correr mal no parto, quer seja com a mãe, quer seja com o bebé, é para a maternidade Alfredo da Costa que vai, então para quê arriscar? Vai-se directamente para o público. Tirando algumas senhoras que querem ter um quarto privado, as restantes querem é ter um parto em segurança, e estas fazem a diferença. Um parto ainda rende muito dinheirinho, já pensaram? Por isso vamos mas é fechar o melhor berço de Portugal e pôr as senhoras a pagarem se não quiserem ficar em fila de espera também para parir !!!
O outro coelho é o dos interesses imobiliários, mas deste nem vou falar, façam  vocês as contas, como diz o outro... 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia mundial da poesia

Nunca mais
Caminharás nos caminhos naturais. 
Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa -
Para sempre está perdido
O que mais do que tudo procuraste
A plenitude de cada presença. 

E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência. 


Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Paradoxo do Nosso Tempo



"Nós falamos demais,
amamos raramente,
odiamos freqüentemente.

Nós bebemos demais,
gastamos sem critérios.
Dirigimos rápido demais,
ficamos acordados até muito mais tarde,
acordamos muito cansados,
lemos muito pouco, assistimos TV demais,
perdemos tempo demais em relações virtuais,
e raramente estamos com Deus.

Multiplicamos nossos bens,
mas reduzimos nossos valores.
Aprendemos a sobreviver,
mas não a viver;
adicionamos anos à nossa vida
e não vida aos nossos anos.

Fomos e voltamos à Lua,
mas temos dificuldade em cruzar a
rua e encontrar um novo vizinho.
Conquistamos o espaço,
mas não o nosso próprio.


Fizemos muitas coisas maiores,
mas pouquíssimas melhores.

Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo,
mas não nosso preconceito;
escrevemos mais,
mas aprendemos menos;
planejamos mais, mas realizamos menos.

Aprendemos a nos apressar
e não, a esperar.

Construímos mais computadores
para armazenar mais
informação,
produzir mais cópias do que nunca,
mas nos comunicamos cada vez menos.


Estamos na era do 'fast-food'
e da digestão lenta;
do homem grande, de caráter pequeno;
lucros acentuados e relações vazias.


Essa é a era de dois empregos,
vários divórcios,
casas chiques e lares despedaçados.

Essa é a era das viagens rápidas,
fraldas e moral descartáveis,
das rapidinhas, dos cérebros ocos
e das pílulas 'mágicas'.

Um momento de muita coisa na vitrine e
muito pouco na dispensa.


Lembre-se de passar tempo com as
pessoas que ama, pois elas
não estarão aqui para sempre.


Lembre-se dar um abraço carinhoso
em seus pais, num amigo,
pois não lhe custa um centavo sequer.


Lembre-se de dizer 'eu te amo' à sua
companheira(o) e às pessoas que ama,
mas, em primeiro lugar, se ame.

Um beijo e um abraço curam a dor,
quando vêm de lá de dentro.
Por isso, valorize sua familia,
seus amores, seus amigos,
a pessoa que lhe ama,
e, aquelas que estão
sempre ao seu lado."

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

When you are smiling, the whole world smiles whith you.



Ninguém pode estragar o seu dia, a menos que você permita.


O colunista Sydney Harris acompanhava um amigo à banca do jornal.

O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas, como retorno, recebeu o jornal que foi atirado na sua direção.

O amigo de Sydney sorriu atenciosamente e desejou ao jornaleiro um bom final de semana.

Quando os dois amigos desciam pela rua, o colunista perguntou:

- Ele sempre te trata com tanta grosseria?

- Sim, infelizmente é sempre assim.

- E você é sempre tão atencioso e amável com ele?

- Sim, sou.

- Por que você é tão educado, já que ele é tão rude com você?

- Porque não quero que ele decida como eu devo agir.

Nós somos nossos "próprios donos".

Não devemos nos curvar diante de qualquer vento que sopra, nem estar à mercê do mal humor, da mesquinharia, da impaciência e da raiva dos outros.

Não são os ambientes que nos transformam e sim nós que transformamos os ambientes.

"Os tristes acham que o vento geme. Os alegres e cheios de espírito afirmam que ele canta".

O mundo é como um espelho, devolve a cada pessoa o reflexo dos seus próprios pensamentos.

A maneira como você encara a vida faz toda a diferença!





When you are smiling

ocurre que tu sonrisa es la sobreviviente

la estela que en ti dejo el futuro

la memoria del horror y la esperanza

la huella de tus pasos en el mar

el sabor de la piel y su tristeza

When you are smiling

the whole world

que también vela por su amargura

smiles whith you.

Mário Benedetti


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O Corneteiro de D. Afonso Henriques



A culpa é mesmo do corneteiro!....

Para quem não conhece a história do Corneteiro:

Nos primeiros tempos da fundação da nacionalidade - tempo do nosso rei D. Afonso Henriques - no fim de uma batalha o exército vencedor tinha direito ao saque sobre os vencidos.
  (Saque - s. m. : Acto de saquear. Roubo público legitimado…).

Pois bem, após uma dessas batalhas, ganha pelo 1º Rei de Portugal, o seu corneteiro lá tocou para dar "início ao saque" a que as suas tropas tinham direito e que só terminaria quando o mesmo corneteiro desse o toque para “fim ao saque”.

Mas, … fruto de alguma maleita ou ferimento, o dito corneteiro finou-se, antes de conseguir tocar o "fim ao saque". E.... até hoje, ninguém voltou a tocar “fim ao saque”…

Afinal a culpa é mesmo do Corneteiro....!!!

NÃO HAVERÁ POR AÍ NINGUÉM QUE CONHEÇA O TOQUE ???