Estão a tratar-nos como se fossemos ignorantes e inúteis, estamos a comportarmo-nos como se eles fossem inocentes e bem-intencionados…já não sei o que pensar, nem deles nem de nós.
Vou fingir que estou embriagada, e para ilustrar aqui vai uma anedota sobre a prova de vinhos em Minas Gerais de Luiz Fernando Veríssimo.
*Degustação de vinho em Minas*
- Hummm...
- Hummm...
-* Eca!!!*
- Eca?! Quem falou Eca?
*- Fui eu, sô! O senhor num acha que êsse vinho tá com um gostim estranho?*
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque detrufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...
*- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!*
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
*- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!*
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
*- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?*
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...
*- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!**
*- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...
*- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!*
- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
*- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...*
- O senhor poderia começar com um Beaujolais!
*- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!*
- Então, que tal um mais encorpado?
*- Óia lá, ocê tá brincano com fogo...*
- Ou, então, um suave fresco!
*- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada!*
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
*- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, messs! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...*
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
*- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?*
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
*- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!**
*- Mole e redondo, com bouquet forte?
*- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!..*
*Luiz Fernando Veríssimo*
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