segunda-feira, 25 de maio de 2015

Amigos



Hoje sei que tenho os amigos suficientes, agradeço à vida por me ter mostrado quem são de facto os meus amigos, aqueles a quem a gente diz no matter what!!
Aqui fica este texto lindíssimo para vos homenagear, e sim sem vocês eu não teria aguentado.

Amigos 

Amigos que não sabem o quanto são meus amigos. 
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta 
necessidade que tenho deles. 

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, 
eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o 
amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. 

E eu poderia suportar, embora não sem dor, que 
tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem 
todos os meus amigos! 

Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus 
amigos e o quanto minha vida depende de suas existências … 

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. 
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. 

Mas, porque não os procuro com assiduidade, não 
posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. 

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem 
que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. 
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, 
embora não declare e não os procure. 

E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem 
noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu 
equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, 
construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. 

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. 
Se todos eles morrerem, eu desabo! 
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. 
E me envergonho, porque essa minha prece é, em 
síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. 

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. 
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, 
cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando 
daquele prazer … 

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a 
roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando 
comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus 
amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber 
que são meus amigos! 
A gente não faz amigos, reconhece-os. 

Vinícius de Moraes