sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sting: yin e yang musical


Este texto refere-se ao concerto de Sting no EDP CooljazzFest'12 em Oeiras, dia 29 de Junho, um dos melhores concertos que tive oportunidade de assistir. E porque é muito fiel ao que eu senti e vi aqui vos deixo.

"25 anos de carreira a solo, num total de quase quatro décadas dedicadas à música, Sting já atingiu um patamar de excelência que quase dispensa apresentações mais pormenorizadas. O cantor abriu a edição deste ano do Cool Jazz Fest naquela que terá sido uma das noites que melhor ilustra todo o conceito deste festival de Verão: foi uma noite amena onde se ouviram boas incursões pelo jazz num excelente exemplo do que é um festival diferente.
A chamada de Sting a palco faz-se como seria de esperar de uma figura zen como só ele. Ouve-se uma melodia suave, muito suave... que quase adormecia não fosse enorme a expectativa de ver Sting em palco, acompanhado de cinco músicos que, para o público português, ainda eram uma surpresa ao início da noite mas que já o acompanham na sua digressão Back to Bass desde o final do ano passado.

Hoje, no Estádio Municipal de Oeiras, nenhum internacional famoso falharia golos, tão reduzida era a distância entre a última fila de pessoas e a baliza. Com um cenário reduzido, o sexagenário artista agarrou os 10 mil fãs portugueses, de todas as idades e ambos os géneros, desde o primeiro acorde de 'All This Time', a que se seguiram 'Every Little Thing She Does Is Magic' e 'Englishman In New York', de 1987. Convém esclarecer que neste espectáculo não há margem para temas novos ou grandes experimentações musicais. A fórmula é fácil de entender: só Sting e o seu baixo - o instrumento que tocava nos Police - no seu melhor. Até o som, talvez ajudado pela ausência de vento ou pelos 40 mil watts de potência, estava no ponto certo para termos uma boa noite de música.

Falar português, já se sabe, garante subir mais uns degrauzinhos na admiração do público e Sting, embora não de forma exaustiva, cumprimentou os presentes, apresentou a banda e ainda perguntou se tínhamos frio. Não, nada de frio, portanto, os braços ergueram-se para aplaudir e acompanhar Sting num dueto de um para dez mil em 'Heavy Cloud No Rain' onde o concerto começou a assumir sonoridades mais jazzy. A "escola" Police fez-se notar logo na canção seguinte, 'Driven To Tears', mais a puxar pelo rock e na qual é de salientar o talento, a entrega, a quase loucura do violinista Peter Tickell que volta a responder à chamada em 'Shape of My Heart' e 'Love Is Stronger Than Justice', dando uma utilização nada típica de um instrumento tão frágil e delicado, quase a tocar riffs da guitarra mais frenética.

Todo este regresso aos temas gloriosos de String não trouxe, no entanto, nenhuma nostalgia bafienta. Antes pelo contrário. Tudo foi apresentado em arranjos musicais modernos, voltados para um futuro que Sting vai continuar a levar, certamente, com a estrela da qualidade. Talvez soubesse bem, no entanto, que se tivesse "passado" uma ou outra vez, como afinal toda a gente já fez a ouvir as músicas dele.

Será injusto dizer que o senhor Sumner guardou as melhores para o fim porque, afinal, grandes êxitos foi o que se ouviu nas duas horas de concerto. A fechar ficaram momentos intimistas como 'Desert Rose', 'King of Pain', 'Roxanne' e 'Every Breath You Take'.

Praticante de yoga e sexo tântrico, defensor das nobres causas ambientais e balança metódica de yin e yang, Sting acabou a noite a doar toda a alimentação que não foi consumida nos bastidores a uma instituição de solidariedade social. Assim, é impossível evitar que, mesmo não sendo novidade para os portugueses, mr.Sting esgote os espaços por onde decidir continuar a visitar-nos."

Texto de Daniela Azevedo, foto de Vanessa Krithinas in Rádio Comercial