sexta-feira, 3 de abril de 2009

WPC e Bordalo no Sintra Museu de Arte Moderna Colecção Berardo

A exposição de trabalhos seleccionados para o World Press Cartoon Sintra 2009 vai uma vez mais acontecer no Sintra Museu de Arte Moderna Colecção Berardo, ocupando todo o primeiro andar do belíssimo edifício dos anos 20 do século passado. Este ano, o World Press Cartoon terá a companhia, no piso térreo, de uma rara retrospectiva do trabalho gráfico e da cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro. As duas exposições estarão abertas ao público entre 18 de Abril e 14 de Junho. O Sintra Museu de Arte Moderna Colecção Berardo fica na Avenida Heliodoro Salgado, em 
Sintra.



Ameaça... ou oportunidade?
Antes de haver fotografias nos jornais, já havia caricaturas e cartoons. A agressividade crítica dos grandes caricaturistas do século XIX não encontra paralelo nos dias de hoje, quando somos muito mais comedidos na forma de abordar as personagens, os acontecimentos e os traços culturais que distinguem os povos. A chegada da fotografia não ameaçou a caricatura. Pelo contrário, foi uma oportunidade para abrir caminho a um jornalismo mais visual, onde o comentário através do cartoon casou na perfeição com o fotojornalismo. Os jornais diversificaram-se, conquistaram novos públicos e afirmaram-se, por todo o mundo livre, como referência democrática de cidadania.
Ventos adversos castigam actualmente a imprensa es­­crita na Europa e nas Américas. Não se trata de ameaças à liberdade de expressão por via de medidas censórias ou do controlo de regimes totalitários. O perigo, desta vez, parece vir da própria cidadania: os leitores estão a abandonar os jornais!
Títulos que fecham, as tiragens e as vendas em queda livre, as receitas de publicidade e de assinaturas em retracção permanente. Será que o cartoon vai ser uma das primeiras baixas desta crise global da imprensa do mundo livre? A ameaça aí está. Mas pode ser transformada em oportunidade.
Cartoons, caricaturas, desenhos de humor, têm nas nossas vidas um lugar insubstituível. Porque são a ponte natural entre os dramas do quotidiano e aquele sorriso que nos faz sentir que há uma saída para tudo. E há mesmo.
Cortar na qualidade do jornalismo e da oferta dos jornais, de que os cartoons são parte essencial, não vai ajudar a imprensa a sobreviver. Pelo contrário, será reforçando a qualidade dos jornais – lendo em permanência os interesses e tendências dos públicos – que se poderá atravessar este vendaval de perdas. O que estamos a viver não é mais do que um ajustamento natural a novos tempos.
Seja pela integração equilibrada de edições em papel e edições on-line, seja pela reestruturação de conteúdos e modelos de produção, há já muitos bons exemplos de sucesso por esse mundo fora. Nenhum deles prescindiu dos desenhos de humor nas suas páginas.
Para os cartoonistas são, portanto, tempos de adaptação a uma nova relação com os jornais e os seus públicos. Também eles precisam de olhar o futuro com confiança, integrando no seu trabalho (a par dos valores imperecíveis da liberdade, dos direitos humanos e da democracia) novos elementos críticos, em sintonia com os interesses dos que os lêem e vêem. Quem melhor do que os criadores para responder criativamente às adversidades?...A selecção final do júri do salão de 2009 do World Press Cartoon prova a vitalidade do cartoon editorial nas sete partidas do mundo. Os factos e os protagonistas de um ano inteiro da vida da nossa aldeia global em 401 desenhos, vindos de 62 países, publicados por 273 jornais que se exprimem em dezenas de línguas diferentes. Uma mesma pessoa não seria capaz de ler as notícias que vêm nesses jornais todos. Mas todos podemos ver (e entender) estes cartoons e caricaturas. A linguagem do desenho de humor na imprensa é mesmo universal!

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