quarta-feira, 2 de julho de 2014

Se

 
 
Se és capaz de manter tua calma, quando, 
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa. 
De crer em ti quando estão todos duvidando, 
e para esses no entanto achar uma desculpa. 
 
Se és capaz de esperar sem te desesperares, 
ou, enganado, não mentir ao mentiroso, 
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, 
e não parecer bom demais, nem pretensioso. 
 
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires, 
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores. 
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires, 
tratar da mesma forma a esses dois impostores. 
 
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas, 
em armadilhas as verdades que disseste 
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas, 
e refazê-las com o bem pouco que te reste. 
 
Se és capaz de arriscar numa única parada, 
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida. 
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, 
resignado, tornar ao ponto de partida. 
 
De forçar coração, nervos, músculos, tudo, 
a dar seja o que for que neles ainda existe. 
E a persistir assim quando, exausto, contudo, 
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste! 
 
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes, 
e, entre Reis, não perder a naturalidade. 
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, 
se a todos podes ser de alguma utilidade. 
 
Se és capaz de dar, segundo por segundo, 
ao minuto fatal todo valor e brilho. 
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo, 
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho! 
 
Rudyard Kipling 

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